Poema "Adamastor"
Flutua.
Olha para cima e vê
uma gaivota a sobrevoar.
Fecha os olhos
e foca-se no
suave embalo do mar.
O marulhar é calmo e tranquilo,
e as nuvens escuras,
ao longe,
são apenas um
ponto esborratado
numa tela imensa de azul.
Abre os olhos,
mas a gaivota
já não está ali:
juntou-se às restantes
e a terra rumou.
O ponto esborratado
é agora um
horizonte cinzento escuro,
trovejante e ameaçador,
que implacavelmente
se aproxima.
Em algumas braçadas
a terra chega.
Vira-se para o mar,
e de cabeça levantada,
sente agora o vento forte,
que consigo traz
aguilhões em forma de salpicos.
Semicerra os olhos,
mas não os fecha.
Olha em frente.
Vem tempestade!
Vem borrasca!
Vem tormenta!
Não o deitarás abaixo.
Com os pés firmes,
queixo erguido
e vontade inamovível,
enfrentará mais uma vez
o Adamastor!